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A Doutrina

Leia a história da doutrina do Santo Daime e a trajetória do Mestre Irineu. (Clique aqui)







A História da Doutrina do Santo Daime

Raimundo Irineu Serra era Maranhense de São Vicente de Ferré, onde nasceu no dia 15 de dezembro de 1892. Descendente de escravos, este negro forte e de estatura avantajada (media 1,98m e calçava 48) se casou quatro vezes e deixou um único filho, chamado Walcírio.

Sua iniciação nos mistérios do chá da ayahuasca deu-se sob orientação da Nossa Senhora da Conceição, de quem ele recebeu os fundamentos da doutrina que tinha fé de vir a "ser reconhecida no mundo inteiro". Esse período de desenvolvimento durou de 1935 a 1940, de acordo com José das Neves, acreano de Xapuri, que foi seu companheiro de trabalho por 40 anos.

Quando chegou ao Acre, em 1912 e com 20 anos, Irineu integrava o movimento migratório de nordestinos que busavam ganhar a vida na extração do látex.

Inicialmente, residiu dois anos em Xapuri, e depois trabalhou três anos nos seringais de Brasiléia e mais um tempo em Sena Madureira. Ainda nessa época, foi funcionário da Comissão de Lmites, organizada pelo governo federal para delimitar a fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru.

Trabalhando na floresta amazônica, Irineu fez contato com grupos indígenas brasileiros e peruanos. E conheceu a ayahusca num seringal próximo ao Peru com Antonio Costa, também negro e seu conterrâneo, que lhe falou de uns caboclos que bebiam o chá. Decidido a provar a ayahusca, Irineu se juntou ao grupo que, sob o efeito da bebida, se pôs a botar a boca no mundo chamando o demônio.

Ele fez o mesmo. Mas na mesma intensidade com que chamava o tinhoso, cruzes e mais cruzes iam aparecendo, a ponto de deixá-lo sentindo-se sufocado. Irineu achou estranho o fato de surgirem cruzes à medida que ele chamava o diabo. Entretanto, pôde ver uma série de coisas que queria, e ficou bastante impressionado.

Relatos colhidos na região contam que Antonio Costa tomava a bebida, por volta de 1918, com o ayahusqueiro peruano Dom Crescêncio Pizango, que se acreditava herdeiro dos conhecimentos de um rei inca de nome Huascar. Numa reunião com a presença de 12 pessoas, a miração estava forte quando o caboclo Pizango se acercou do grupo, de modo que só Irineu percebeu sua presença. À certa altura do trabalho, o cabloco se aproximou e entrou na cuia grande onde era servida a ayahusca, olhou para Irineu e lhe disse para convidar seus companheiros a olhar dentro da cuia, para falarem o que viam. Mas eles olhavam e repetiam que só viam a bebida.

- Só tu tem condições de trabalhar com a ayahuasca. Ninguém mais está vendo o que tu está vendo - anúnciou o caboclo a Irineu, avisando-lhe que ele era o único capacitado a trabalhar com a bebida.

O pouco que se sabe desses primeiros tempos segue as tradições de uso da ayahuasca entre os vegetalistas e xamãs da Amazônia, e facilmente ganha contornos de mito fundador. Nas visões despertadas pela bebida nessa fase, é importante destacar as aparições de um ser feminino chamado Clara, que se apresentou a Irineu como a Nossa Senora da Conceição, também a Rainha da Floresta para os daimistas.

Tudo começou num dia em que Irineu e o companheiro Antonio Costa tomaram a bebida juntos. Irineu estava na sala e Antonio Costa no quarto da casa, e quando a miração chegou este último disse:

- Raimundo, aqui tem uma senhora que quer falar contigo. Ela está com uma laranja na cabeça pra te entregar. ( A laranja representa o globo.)

- Mas Antonio, por que ela não dá pra ti?

- Mas ela quer dar pra ti.

- Antonio, pergunta o nome dela.

- Ela disse que o nome é Clara. E Ela está te aompanhando desde o Maranhão. Ela disse também que na próxima sessão vai te procurar.

O trabalho terminou e Irineu ficou ansioso para conhecê-la. No dia esperado, ele tomou a ayahusca e foi se deitar na rede, de modo que pudesse ver a lua. Era uma noite iluminada e muito bela. A miração ficou mais intensa e ele sentiu vontade de olhar para a lua, que foi se aproximando até ficar bem pertinho, na altura do teto da casa. E ali parou. Dentro da lua, ele avistou uma senhora muito formosa, sentada numa poltrona, que lhe perguntou:

- Quem é que tu achás que sou?

- Pra mim a Senhora é uma Deusa Universal.

- Tu tens coragem de me chamar de Satanás, isso ou aquilo outro?

- Ave Maria, minha Senhora, de jeito nenhum!

- Tu achas que o que tu estás vendo alguém já viu?

Irineu refletiu e achou que alguém já podia ter visto, pois eram tantos que faziam a bebida que ele julgou estar vendo o resto. A Senhora então falou:

- Tu estás enganado. O que estás vendo agora ninguém jamais viu, só tu. E eu vou te entregar esse mundo para tu governar. Tu vais te preparar agora. Vai ter uma preparação para ver se tu tens merecer verdadeiramente.

Tu vais passar oito dias comendo só macaxeira(mandioca) cozida insossa, com água e mais nada. Também não pode ver mulher, nem uma saia de mulher a mil metros de distância.

A iniciação de Irineu no interior na Floresta, cumprindo a dieta e fazendo abstinência sexual, é um processo típico dos tradição xamãs indígenas, que se impõem provas para desenvolver conhecimento, comunicação com espíritos e poderes diversos (cura, vidência, projeção astral).

Conta-se que, no quarto dia tomando ayahuasca, Irineu ficava o tempo todo mirando dentro da floresta. Os paus criavam vida, bordados de muitas cores, e caboclinhos surgiam por todos os lados; houve contato direto com animais, que se achegavam bem perto dele. Foram muitas provações. Com sua espingarada, Irineu dava tiros para o alto na floresta, pois os estampidos o confortavam naquela situação.

Antonio Costa estava em casa quando resolveu testar a aprendizagem de Irineu. E ameaçou colocar sal na panela em que era preparada a macaxeira, mas não pôs. Lá na mata, Irineu ficou sabendo da experiência. E ao chegar em casa disse para o amigo em tom de graça: - Entonces ia botando sal na macaeira. Não botou mas fez menção de colcoar, heim, Antonio como é? E o amigo, surpreso: - Mas rapaz, como é que tu fez para saber? Então já sei que tu tá aprendendo.

Ao fim da iniciação na mata, Clara lhe disse que estava pronta para atender a sua nessecidade. Irineu, então, pediu-lhe para ser um dos melhores curadores do mundo. Ela o advertiu que ele não poderia ganhar dinheiro com isso, e que iria ter muito trabalho. Outro pedido de Irineu foi que nessa bebida fosse associado tudo que estivesse relacionado à cura.

-Pois já está feito. E tudo está em tuas mãos - sentenciou Ela.

Segundo Luiz Mendes, " o mestre sabia que não era o suficiente para ele ser. Não! Ele recebeu e aí foi se fazer. trabalhar para ir adquirindo. Se aperfeiçoando, recebendo a cada dia os poderes que é preciso ter. Nessa fase, ele falava que ficou cerca de cinco anos".

Na verdade, a missão do mestre Irineu só foi iniciada quando ele superou todas as suas dúvidas. A Rainha da Floresta, ou Nossa Senhora da Conceição, passou a lhe " entregar os seus ensinos", os fundamentos do ritual do Santo Daime, e concedeu-lhe o título de Chefe-Império Juramidam, cuja missão o mestre Irineu representa.

Juramidam - Jura é o Pai, Midam é o Filho - é o nome que as entidaes divinas do Santo Daime deram ao inicador da doutrina. Representa a Segunda vinda de Jesus Cristo ao plano da matéria, sendo que o Povo de Juramidam é a irmandade daimista renovada na mensagem do Cristo para os tempos atuais.

Sebastião Mota de Mello, o padrinho Sebastião, contou que a Rainha da Floresta revelou ao mestre Irineu que o verdadeiro nome daquela bebida era o próprio verbo divino dar, do qual se origina o nome daime. O que explica expressões como daime amor, daime luz, daime força, daime a cura... , utilizadas na doutrina, e que também expressam a dádiva divina da abundância a todos que crêem, e da própria narureza de onde são retirados o cipó e a folha para se fazer o daime.

Instrutora e Mãe Divina, a Rainha da Floresta ainda preparou Irineu para começar a receber os hinos que são testemunho da sua missão, reunidos no seu hinário chamado "O Cruzeiro". Diz-se que ele demorou bastante tempo para receber os primeiros hinos, porque não se achava capaz de cantar. Até o dia em que a Rainha da Floresta lhe disse:

- Olha, vou te dar uns hinos e tu vais deixar de assobiar para aprender a cantar.

- Ah! faça isso não minha Senhora, que eu não sei cantar nada.

- Mas eu te ensino! -afirmou Ela.

Numa ocasião em que ele contemplava a lua, Ela falou:

- Agora você vai cantar.

- Mas como? - perguntou Irineu.

- Abra a boca.

- Mas como? - insistiu.

- Abra a boca, não estou mandando?

Irineu obedeceu e deslanchou a cantar Lua Branca, o seu primeiro hino.

Na década de 20, os irmãos Antonio Costa e André Costa abriram um núcleo que denominaram Centro de Regeneração e Fé - CRF, na cidade de Brasiléia. Raimundo Irineu também participativa do centro, que representou os primórdios da religião do Santo Daime. O grupo era pequeno e, até onde se sabe, uma disputa pelo comando dos trabalhos deixou Irineu descontente, motivando o seu afastamento. Ele se mudou para Sena Madureira e, mais tarde, para a cidade de Rio Branco, quando ingressou na antiga Guarda Terrotorial. Manteve-se nessa corporação até 1932, dela saindo na condição de cabo.

O depoimento dado por José Neves: " Foi no dia 26 de maio de 1930 que comecei esse trabalho com ele, e trabalhamos até o seu falecimento, 41 anos e 41 dias depois. Naquele tempo não havia farda (o traje oficial) e o primeiro trabalho foi de concentração. Éramos três pessoas, não me lembro o nome do outro... De 1935 a 1940 é que o mestre Irineu vai desenvolver e receber os valores da doutrina: os hinos, a música que vem do astral e não tem nada de inventado... Antes não havia esse trabalho em Rio Branco, era um segredo da mata. O mestre Irineu abriu o conhecimento para outras pessoas, até chegar na situação que está hoje".

Em 1930, mestre Irineu estava radicado no bairro da Vila Ivonete e deu início aos trabalhos públicos com o daime. Eram concentrações e preleções, ocasiões em que ele trasmitia as lições aprendidas através do sacramento. No seu compromisso com a busca espiritual, ele filiou-se ao Círculo Esotérico da Comunhão e do Pensamento, em São Paulo, do qual extraiu os princípios da Harmonia, Amor, Verdade e Justiça, integrando-os à doutrina do Santo Daime. Posteriormente, também filiou-se à Ordem Rosacruz.

Em meados dos anos 40, mestre Irineu obteve a doação da Colônia Custódio de Freitas, localizada na zona rual de Rio Branco, onde fundou o Centro de Iluminação Cristã Universal (CICLU), a igreja-sede do culto, mais conhecida como Alto Santo. Suas terras foram repartidas entre as famílias integrantes do culto, e exploradas em regime de mutirão.

De temperamento alegre e hospitaleiro, ele foi um patriarca benevolente entre os seus discípulos, ofertando-lhes amor e disciplina. Seu carisma pessoal atraía inúmeras pessoas, e todos que foram tocados por sua luz ainda sentem a força da sua presença.

No dia 06 de julho de 1971, aos 79 anos, o Mestre-Império Juramidam fez sua passagem para a vida espiritual. Àqueles que estiverem com ele, permanece o aviso: " Caprichem e venham se apresentar".

Fonte: Revista Santo Daime